E Se Ela For Machista?

Quando as mulheres acham que os caras têm que pagar tudo.

Os talheres se alinham ao canto do prato. O garçom se aproxima, recolhe as travessas quase vazias e pergunta se o casal deseja sobremesa. Eles recusam e pedem a conta. A conversa continua mais um pouco e logo o garçom chega com a conta e entrega em direção ao rapaz. Ela abre a bolsa e tira o cartão de credito. Ele abre a carteira e entrega o cartão ao garçom. Ele paga o referente a metade da conta e ela o restante.

Nada de mais no texto acima, certo?

A ideia desse texto surgiu quando em um dos meus grupos do Whatsapp, um amigo comentou que durante um encontro a moça com quem ele estava saindo confessou que se sentia desvalorizada quando ele aceitava que ela rachasse a conta com ele. Disse que a questão não era dinheiro, até mesmo porque ela ganhava mais que ele, mas que não achava legal mulher dividir a conta.

Na mesma linha também há o relato de uma amiga, que quando era mais nova, algumas garotas do grupo que ela costumava sair, ao verem que ela havia ficado com alguém na balada, ao fim da noite perguntavam: “Ele pagou sua conta?”. Elas não perguntavam se o beijo do cara era bom, se ele conversava bem ou se ela estava feliz. Outras perguntas podiam vir depois, mas primeiro queriam saber se o cara pagou a comanda dela. Talvez aquela fosse uma tradução deturpada do que elas entendiam por cavalheirismo ou uma demonstração que o rapaz estava a fim delas.

Numa sociedade moderna a concepção que o homem deve ser o provedor, e é dele a responsabilidades em pagar as contas, não faz mais sentido. Foi se o tempo que as mulheres não trabalhavam ou se tinham uma renda, era muito menor que a do homem. Contudo alguns pensamentos e comportamentos antiquados continuam infiltrados.

Ainda hoje se espera que as mulheres saibam cozinhar. Que varram bem a casa e tenham habilidades com decoração. Minha mãe sofreu, tadinha. Veio ao mundo sem o dom, ou simplesmente vontade, de ser dona de casa em uma época onde a mulher tinha que cuidar das crianças e da casa enquanto o homem ganhava dinheiro. Escutou muita piadinha da minha vó, sogra dela, e das irmãs do meu pai. “Ela não sabe nem pregar um botão”, um dia ela comentou que escutava isso das minhas tias.

Hoje observando minha irmã mais nova e minha namorada, que também não vieram com dotes culinários, sofrem menos com a cobrança de que deveriam saber mais afazeres domésticos, contudo ela ainda existe e vem principalmente de outras mulheres.

Eu realmente creio que as coisas devam ser feitas pelo que soa como o mais justo. Por exemplo, se o homem chega primeiro em casa, porque ele irá esperar a mulher pra dar conta daquela louça na pia. Assim ela terá mais tempo livre para ficarem juntinhos. Da mesma forma penso sobre a divisão de contas, que deve ser feita de acordo com possibilidade de cada um.

Esperar que o homem pague a conta, só porque ele é homem, é perpetuar a alegoria da dona de casa e do chefe de família.

Não existe um consenso quando o assunto é como dividir a conta do restaurante (E a coisa esquenta mais ainda quando a conta é a do motel). Pesquisando rapidamente na internet localizei alguns sites de etiqueta que falam que não existe uma regra para quem deva pagar a conta, apesar de na maioria dos restaurantes os garçons sempre entregarem a conta ao homem.

Com relação a quem deve arcar com as despesas daquele jantar a dois, ou do cineminha no domingo, viagem no feriado, ou o passeio ao fim da tarde, cabe simplesmente ao casal e como cada um se sente em relação a isso. Agora esperar que ações sejam tomadas baseadas simplesmente no sexo é querer parar no tempo.