O Primeiro Eu Te Amo
Então eu ouvi, enquanto ela se virava na cama, já de olhos fechados: “te amo”. Na realidade foi mais algo como “t’amo”, abafado pela preguiça da boca, ou timidez, somado a rotação do corpo.
Parecia saído sem querer. Uma criança fazendo travessuras que ela tentou agarrar pelas pernas, sem sucesso, antes de sair pela porta de casa. As palavras são assim, não voltam. Depois que passam da fronteira dos dentes e atravessam os lábios, estão por conta delas próprias: selvagens a se deixarem compreender, ou não, a quem elas alcançarem. E não voltam.
Seria a primeira vez que alguém me diria aquelas palavras assim. Seria o “Eu te amo” mais sincero de todos: O que escapuliu, o que transbordou. Sempre perguntei-me qual seria a melhor hora de dizer essas palavras. Disse-as apressadamente para pessoas que depois descobri que nem gostava tanto e deixei de dizê-las para pessoas que muito mereciam.
Falo do amor amado, e não apenas do amor romântico. Falo do máximo sentimento que uma criatura pode demostrar para outra, do cuidar, do querer estar junto e querer que aquele ser alcance a mais pura felicidade, aquela que nem você mesmo sabe definir.
Virei-me de peito para cima na cama, mirando o teto branco. Luzes apagadas. Meu coração virava cambalhotas. Ela já devia estar dormindo, ou pelo menos tentando fisgar algum sono. Não falei nada. Desejei que as minhas palavras também saíssem como as delas, como a condensação em som de um sentimento. Desejei que fluísse de dentro dos meus pulmões e inundasse cada centímetro do corpo dela. Que seja tão belo e inesperado quanto o dela.