Olhos e Paredes

Quantas histórias cabem nos desconhecidos?

Francisco Marques
2 min readMay 31, 2020
Photo by Ryoji Iwata on Unsplash

Curioso e distraído. É assim que me vejo andando pelo mundo. Já me disseram que não é bonito encarar as pessoas, mas mesmo assim eu faço. Não encaro por mal, nem sei se “encarar” é a palavra mais apropriada, eu apenas embarco em certos rostos e tento através de expressões cansadas, sorrisos de canto de lábio e olhos puxados, desvendar a história de cada um. Por muitas vezes eles foram os personagens em contos que escrevi. Prefiro ser desconfortável olhando a confortável ignorando. Como as muitas pessoas que andam por ai, esbarram uma nas outras, mas não se enxergam. É o eterno paradoxo do viver numa cidade cheia e num deserto ao mesmo tempo. As cidades estão quase cuspindo seus habitantes, sou mais uma formiguinha nesse formigueiro tosco. A falta de espaço me sufoca, me faz mal. Os apartamentos são tão pequenos e de paredes tão finas que é como morar com estranhos invisíveis. Por isso olho sem medo, e quase todos desviam. Um dia eu paro, ou porque me chamaram a atenção ou porque cansei.

Texto de abril de 2015. Naquela época uma pessoa me falou sobre esse meu habito. “É feio encarar as pessoas”. Realmente, ser observado com olhos de curiosidade por um estranho pode acender inúmeras questões na cabeça de uma pessoa: Esta me achando feio? bonito? quer me roubar? achou-me parecido com alguém?. Se de fato fazia isso, fazia sem a preocupação dos desdobramentos dessa ação. Talvez encurralado pela acusação me justifiquei com o texto que publiquei a cima. Hoje sei que podemos nos sentir próximos dos “estranhos invisíveis” sem ter constranger ninguém e que há mais uma alternativa para o final da ultima frase.

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Francisco Marques
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Written by Francisco Marques

Engenheiro, cronista e apaixonado por viagens, histórias, gente e principalmente juntar isso tudo no papel.

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