Sobre Mudanças E Casulos De Vidro

Francisco Marques
3 min readJun 27, 2017

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É tão difícil falar sobre mudanças, principalmente quando elas ainda estão em fase de conclusão. Quando se atravessa uma rua, uma ponte, ou se vai de uma cidade a outra é claro onde a viagem começa e onde termina. Vamos de “A” a “B”, como nos exercícios de física. Na vida podia ser assim as vezes, diminuiria e muito a taxa de ansiedade de muita gente. Infelizmente não funciona desse jeito e cabe a nós adaptarmos nos e sobrevivermos.

Hoje entendo porque os bichos se isolam em casulos durante os períodos de metamorfose. A resposta que tenho disso é porque seria duro ser questionado ou receber um milhão de conselhos enquanto o processo de mudança está no meio. Os insetos são muito sábios. Ninguém dá palpite, eles ficam ali e quando a transformação se encerrar eles saem belos e poderosos.

Somos educados para carregarmos preso ao peito o crachá de nossas vidas. Somos o engenheiro de uma multinacional, ou o professor adjunto de uma faculdade federal, ou estudante de algum curso badalado. Somos. O tempo todo, somos.

Esse período em que passei morando no exterior e depois sem emprego, andei pensando no que eu realmente sou. Não existia nenhuma etiqueta para me identificar. Eu não poderia me introduzir dizendo. “Prazer, meu nome é Francisco. Sou engenheiro da Empresa X” ou “Oi, eu faço faculdade no Instituto Y”. Caramba, não existem rótulos, então como é que faz? Isso não nos ensinaram na escola. Eram tantos adjetivos e o verbo “Ser” conjugado na primeira pessoa no presente do indicativo soa tão bonito.

A impermanência é lei da vida. Deveriam nos ensinar a conjugar o verbo “Estar” com mais entusiasmo que o verbo “Ser”. No futuro, quando não mais pertencerei a esse mundo nem mesmo eu poderei Ser.

Eu pertenço aquele grupo de pessoas chatas que acreditam que até os mais incômodos e difíceis momentos que passamos na vida tem um lado bom. Tenho visto tantos amigos tomando coragem para fazer coisas que em tempos de economia boa nunca iriam cogitar fazer (a segurança nos acomoda e nos adormece) e se lançando em projetos grandes e arriscados. Todos com seus egos menos inflados, descobriram que o “Ser” é ilusório e que a qualquer golpe de sorte poderiam não ser nada além deles mesmos. Consegui enxergar certa beleza em ver amigos seguirem seus sonhos que antes estavam engavetados por medo de arriscar.

Quando converso com meus amigos (principalmente os desempregados ou insatisfeitos com o trabalho) sinto-me numa convenção de casulos. Só que casulos sem nenhum tipo de barreira física. As mudanças acontecem a olhos nus e amedrontam.

Esse é um momento tão precioso. Temos a oportunidade de reafirmamos nossas reais aptidões ou de simplesmente mudar.

Como disse, eu sou chato e acredito que em breve teremos uma nova convenção, só que agora sem casulos: Com seres mais belos e desenvolvidos.

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Francisco Marques
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Written by Francisco Marques

Engenheiro, cronista e apaixonado por viagens, histórias, gente e principalmente juntar isso tudo no papel.

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